Última carta para ele…
- Ana Flávia Boldt
- 11 de mai. de 2015
- 2 min de leitura

Acordei e não te vi mais ao meu lado. – Foi ao banheiro –, pensei. Mas do banheiro você não saiu. Levantei e fui te procurar. O sol batia na janela e a luz passava pela cortina entreaberta, iluminando o assoalho. Fui até a cozinha esperando encontrar o café pronto. Mas sobre a mesa só encontro um bilhete. ”Perdoe-me por não ser capaz de te fazer feliz.” Isto era pra ser um adeus? Larguei o bilhete e fui me sentar. Fiquei em silêncio por uns bons 10 minutos. Tentei absorver, sabe? Levantei e fui em direção à nossa coleção de vinil. Você sabe, aquela que começamos a comprar faz dois anos, eu acho. Peguei seu álbum favorito, o Abbey Road. Olhei para a luz do sol que atravessava a janela e comecei a cantarolar Here Comes the Sun.Você sempre gostou dessa música. Adorava quando te ouvia tocar no violão. Levou, né? Reparei que o violão não estava no canto da sala. É uma pena saber que não te ouvirei mais tocar. Voltei para o quarto. Lembra daquela caixa de cartas que você guardava? Elas estão aqui ainda. Li cada uma. Sempre gostei de escrever, principalmente para ti. Mas esta é a última, pode deixar. Uma lágrima pingou no papel. Não consegui conter o choro vendo tantas lembranças de uma só vez. Toda a nossa história dentro de uma caixa. Uma caixa que você não fez questão de levar. Por quê? Não sei o que fazer com isso, acho que deveria levar contigo, afinal, é seu. Dou mais uma caminhada pela casa. Tento não pensar em você. Céus, falhei. Qualquer canto desta bendita casa me faz pensar em ti, na tua risada, no teu jeito. Lembra quando pintamos a parede da sala? Você foi ver se a tinta já estava seca e acabou deixando uma marca de dedo no canto direito. Eu passo os dedos sobre ela. Você se foi, mas deixou marcas. Eu não sei como devo me despedir. Com um até logo, te vejo mais tarde? Dessa vez é um adeus, não é? Não vou dizer que não vou sentir a sua falta, você sabe que eu não gosto de mentir. E eu também não sei dizer adeus, é uma palavra tão vaga, tão fria. Mas vá, tranque a porta quando sair…e jogue a chave fora.
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